Pelo mesmo motivo que gostamos de comer, de sexo e de exercício físico. Nosso organismo, não por acaso, é particularmente sensível às sensações de prazer, e nosso cérebro foi configurado para sempre querer mais do que é gostoso. O que não parece nada mau, não é? O problema foi que o feitiço virou contra o feiticeiro quando as drogas e seus efeitos colaterais deram as caras.
Essa “configuração cerebral” é chamada de sistema de recompensas e foi muito importante para nossa sobrevivência ao longo dos séculos. Quando nossos ancestrais faziam sexo, era gostoso, e o cérebro os estimulava a fazer mais daquilo. Mais sexo é igual a mais oportunidades de reprodução, a mais descendentes e a mais chances de sobrevivência para a espécie como um todo. Quando eles comiam, esse sistema os estimulava a comer mais. Mais comida é mais saúde e maior resistência a doenças e acidentes. E, na natureza, comida é algo escasso. O prazer, então, é só um suborno para continuar praticando o que faz bem.
Esse estímulo na verdade é uma substância chamada de endorfina, que tem o adequado apelido de “hormônio do prazer”. Esse processo todo é bastante primitivo biologicamente e pode ser encontrado mesmo em espécies bem menos complexas que um ser humano, tal como os insetos.
As drogas que viciam agem exatamente nesse mecanismo do cérebro para nos fazer cair na armadilha dos entorpecentes. Elas alteram a função do sistema de recompensas, fazendo o organismo parar de se preocupar com o próprio bem-estar e só dar atenção à alimentação do vício. Todas as fontes de prazer deixam de ter a mesma importância e só o consumo do entorpecente passa a ser agradável e desejável. Quem não entende a dificuldade que um dependente tem de abandonar o seu vício pode imaginar o seguinte: o quanto você sofre quando fica sem comida? Se estivesse morrendo de fome, o que seria capaz de fazer por comida? É uma sensação parecida com o que a ausência da droga causa em quem está viciado.
São diversas as substâncias que causam essa deturpação de um mecanismo com função tão nobre. É o caso da cocaína, do álcool, da nicotina, da heroína e também da maconha. O LSD, no entanto, apesar de causar danos cerebrais consideráveis, não age nessa área e, portanto, não vicia.
Drogas Internas
O controle da liberação de endorfina quando comemos, fazemos sexo e exercícios, dormimos ou mesmo nos protegemos do frio é feito por um sistema cerebral conhecido como sistema opióide. O nome vem do ópio, porque essa droga afeta exatamente os mesmos receptores, ou “fechaduras químicas”, dos neurônios. Essa é uma característica comum a muitas outras drogas: provavelmente por acaso, sua composição química e a estrutura de suas moléculas “encaixa” de forma suficientemente precisa em receptores dos neurônios de humanos e outros animais afetados por elas. Não é que os neurônios tenham sido “fabricados” para absorver drogas: o que acontece é que, por azar, elas são parecidas com moléculas que o organismo produz naturalmente e que funcionam como sinalizadoras no cérebro, além de cumprir outras funções, em certos casos.
O mesmo fenômeno levou à descoberta do chamado sistema endocanabinóide. É isso mesmo: todo um conjunto de sinalizadores e receptores que se assemelham ao princípio ativo da Cannabis sativa, a popular maconha. O sistema dos endocanabinóides está tanto associado a sensações de bem-estar quanto ao controle da fome, o que explica a “larica”, ou fome exacerbada, de quem fuma um baseado. Por isso, remédios contra obesidade estão começando a explorar essa propriedade.
A cafeína é a substância psicoativa (ou seja, com efeitos sobre o sistema nervoso) mais consumida do mundo. Em média, toda pessoa toma uma dose de cafeína por dia no planeta.
A forma é a função
Conheça as drogas fabricadas no interior do seu cérebro
Anandamida
Uma das principais substâncias do sistema endocanabinóide, ou seja, é um análogo do princípio ativo da maconha. Tem funções no sistema nervoso e no sistema imune (de defesa) do organismo.
Dopamina
Essencial para uma série de funções neuronais, a dopamina fica em falta no cérebro de pessoas com mal de Parkinson. Um dos efeitos do LSD afeta os receptores dessa molécula.
Endorfina
Molécula cujo nome quer dizer “morfina endógena”, ou seja, produzida pelo próprio organismo. Sua ação é a mesma das drogas da família do ópio, ligadas ao famoso sistema opióide.
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